O Grande Mestre

História acompanha a vida do grande mestre de wing chun Ip Man, no início dos anos 30 em Foshan e após a segunda guerra sino-japonesa quando ele se estabelece em Hong Kong e permanece até sua morte no início da década de 70. – O Grande Mestre [2013]

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Uma vez mais explorando a temática das artes marciais em um de seus filmes, o diretor Wong Kar-wai constrói uma obra visualmente deslumbrante, abusando de seu estilo e edição característicos e também de elementos de enredo que são recorrentes em sua aclamada carreira.

Sua única incursão nesse gênero havia sido com Cinzas do Passado (東邪西毒 Dung che sai duk), lançado em 1994. Posteriormente a obra passou por uma revisão e foi relançada em 2008 como Cinzas do Passado Redux.

Dezenove anos depois temos O Grande Mestre, um filme cuja premissa é retratar de forma biográfica pessoas e eventos marcantes na vida do lendário mestre de wing chun Ip Man, desde seus tempos em Foshan, cidade localizada na província de Guangdong, até eventualmente se estabelecer em Hong Kong após a segunda guerra.

O Grande Mestre - Resenha do filme - Cenas

Estranho constatar que é justamente nesta premissa básica que o filme apresenta sua estrutura mais frágil, o que acabou por desagradar muitos dos espectadores. Digo isto porque a obra carece de linearidade e em determinados momentos apresenta arcos onde o foco da trama recai sobre outros personagens e acaba por deixar a figura do protagonista totalmente de lado. Além disso, vale lembrar que muitos dos eventos e pessoas retratadas são ficcionais ou alterados de forma a melhor se encaixar na visão do diretor, o que certamente não contribuí para um entendimento mais profundo da figura de Ip Man.

Outro ponto que pode gerar frustração é a edição entrecortada que acaba por deixar alguns núcleos sem resolução ou com sua integração com o restante da obra prejudicada, como é o caso da mulher de Ip, que praticamente desaparece da metade do filme para frente e mais notoriamente a história do personagem Navalha, que deslocada do restante da trama aparece mais como um bônus.

Apontados os pontos falhos, podemos concordar que O Grande Mestre apresenta de forma maestral o estilo pelo qual o diretor ficou conhecido, com cenografia, figurino e trilha sonora impecáveis. Cada peça de mobília, cada gesto, cada olhar trocado é enaltecido por tomadas de câmera inventivas que ao mesmo tempo em que nos transportam para a intimidade da cena, também nos distânciam, criando certa aura de sonho e maravilhamento, como se estivéssemos diante de painéis pintados que por mágica parecem criar vida.

Outro elemento a ser aplaudido é a coreografia dos movimentos e a fluidez e dedicação que os atores empenham nos momentos de combate. Com vários mestres tendo de por suas habilidades à prova, o filme apresenta uma galeria de estilos e técnicas marciais que apoiados na plasticidade e na precisão criam cenas marcantes e de extrema beleza.

Sobre os personagens, Tony Leung Chiu-Wai oferece uma interpretação elegante e contida de Ip Man nos momentos de diálogo e de extrema entrega durante os duelos. Já Gong Er, interpretada por Zhang Ziyi, é verdadeiramente a grande estrela do filme, com uma atuação sólida e uma história trágica e sensível que amarra todos os acontecimentos da trama. Destaque também para a jornada de extrema poesia do velho mestre Gong Yutian e de seu poderoso mas descontrolado discípulo Ma San.

Mais do que um filme de luta, O Grande Mestre é uma obra que levanta situações delicadas como a acirrada disputa entre o Norte e o Sul da China, a questão da autonomia de Hong Kong e as mazelas com o Japão. Além disso, resgata temas chave da obra de Wong Kar-Wai, tais como sentimentos contidos, amores impossíveis, a honra e principalmente o arrependimento.

Trailer

Ficha técnica

  • 一代宗師 : Yi dai zong shi
  • Título Literal : “O Mestre de uma Geração”
  • Título Internacional: The Grandmaster
  • Direção : Wong Kar-Wai
  • Info: Hong Kong, China 2013 Cor – 130 min
  • IMDb: www.imdb.com/title/tt1462900/

Nota

8.0/10
8/10

Nascido algumas décadas atrás num agosto cinzento. Amante de literatura e Cinema, em especial as produções orientais. Tem nesse projeto um sonho que se iniciou no distante ano de 2006.

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Renato
Renato
1 dia atrás

Filme fantástico, já assisti umas 20 vezes seguidas e não consigo parar de assisti-lo novamente. Um pouco confuso em alguns momentos, não seguindo um modelo linear, e nem se aprofundando muito em alguns personagens apresentados, além, dos vários tipos de cortes que foram produzidos, deixando ausente algumas cenas, dependendo da versão que se assiste. No geral, uma obra maravilhosa, dramática, explorando toda a poesia, filosofia e beleza das artes marciais Xingyi, Bagua, Baji Kung Fu, e, claro o Wing Chun, arte marcial magnífica.

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