Festival Indie 2018

O cinema está sempre em transformação…

No Indie festival 14 diretores, com filmes de 13 países diferentes, foram selecionados criteriosamente de forma a refletir o que o cinema mundial produz nas suas formas artísticas, conceituais, experimentais mais livres e radicais. O espaço aberto de um festival de cinema que precisa conectar o espectador a esse mundo estético e mutante. Com curadoria de Daniella Azzi, Gustavo Beck e Francesca Azzi.

São representantes, no INDIE 2018, dessa grande energia e inspiração transformadora do cinema o filipino Lav Diaz, os chineses Hu Bo, Bi Gan e Liang Ying, o argentino Mariano Llinás, o catalão Albert Serra, o japonês Ryusuke Hamaguchi; o artista austríaco Johann Lurf e o veterano norte-americano James Benning; e os novos talentos representados pela alemã Helena Wittman,a húngara Zsófia Szilágyi, a polonesa Jagoda Szelc, o mexicano-suíço Pablo Sigg e o italiano Fabrizio Ferraro.

Dentre todos os presentes, destaque para os orientais:

O mágico Lav DIAZ – Consagrado por suas longas e originais narrativas no cinema independente mundial, transmuta sua criação a cada filme. Estação do diabo (230 minutos) é tão original na forma de contar sua história, e tão atual no tema político quanto sensível na poesia, uma experiência incomum que resvala na dor e opressão. Reconhecido pela longa duração de seus filmes, Diaz já disse, diversas vezes ao longo dos anos, que não rege suas obras pelo tempo, mas, sim, pelo espaço e pela natureza. Lançado na Berlinale deste ano, inédito no Brasil, estreia no INDIE 2018, sua ópera rock, um musical político (em que Diaz compõe todas as músicas), que reflete a ditadura e os tempos sombrios que vive seu país, as Filipinas.

O desmantelamento social em Hu BO – É do jovem escritor e diretor chinês Hu Bo um dos mais importantes filmes do ano: Um elefante sentado quieto. Hu, que cometeu suicídio em 2017, aos 29 anos, logo após concluir o filme, fez desse seu primeiro e último longa, um manifesto da sua existência. Um filme colossal e singular, com quase quatro horas de duração, em que Hu nos leva a acompanhar um dia na vida de quatro moradores de uma pequena cidade no norte da China. “As coisas verdadeiramente valiosas estão nas rachaduras do mundo, e não de maneira pessimista”, diz Hu Bo.

O preciosismo fantástico de BI GAN – O crítico francês Pierre Rissient, falecido um pouco antes do Festival de Cannes, escreveu: “Agora, sete meses após o coração de Hu Bo, diretor de Um elefante sentado quieto, parar de bater tragicamente, surge o último filme de Bi Gan, Longa jornada noite adentro. Eu diria que é uma geração da poesia ardente”. Para Rissient, Hu Bo e Bi Gan seriam a oitava geração do cinema chinês. E o jovem diretor chinês Bi Gan está, inédito no Brasil, com Longa jornada noite adentro, seu segundo filme, lançado na competição de Cannes 2018. Perfeccionista e meticuloso, Gan fez um romance, noir, sci-fi, de um homem em busca da mulher amada.

A verdade cruel em Liang Ying – O governo chinês, em 2012, perseguiu o diretor Liang Ying e sua família porque queria proibir a exibição internacional do seu filme When Night Falls, exibido no INDIE daquele ano, sobre um jovem que mata seis policiais e é condenado à morte pelo governo chinês, que decreta sua sentença sem respeitar as formalidades legais e a luta da sua mãe por justiça (anteriormente, o Indie 2006 também exibiu seu segundo longa A outra metade). Liang Ying desde então vive exilado em Hong Kong. Em Locarno 2018, Ying lançou seu primeiro longa em cinco anos, A viagem da família, uma história autobiográfica, sobre uma diretora de cinema chinesa, refugiada, que junto com o marido e o filho, reencontra com a mãe, que não via há anos, em Taiwan numa pretensa viagem de turismo. Liang Ying luta por sua liberdade artística.

O ordinário/extraordinário em Ryusuke Hamaguchi  – Com um talento nato para contar histórias cotidianas e ao mesmo tempo extraordinariamente estranhas, o diretor japonês de Happy Hour, um filme de quase 5 horas exibido no Indie em 2016, está no INDIE com seu novo filme Asako I & II. Lançado na competição do Festival de Cannes 2018, é baseado no livro da escritora japonesa Tomoka Shibasaki, que para o diretor lhe atraiu por dois pontos: a estranheza de uma mulher que se apaixona por dois homens com o mesmo rosto e a atenta descrição da vida cotidiana.

*Francesca Azzi e Daniella Azzi 
Curadoras do Indie festival

Programação

12.09 – Quarta

20h30 Asako I & II

13.09 – Quinta

14h Á Deriva
16h Os indesejados da Europa
18h A Viagem da Família
20h Um Elefante Sentado Quieto

14.09 – Sexta

14h Um Dia
16h ★
18h Lamaland
20h La Flor – Parte 1 (221 min com intervalo de 10 minutos)

15.09 – Sábado

14h Torre. Um Dia Brilhante
16h A Viagem da Família
18h Asako I & II
20h30 Longa Jornada Noite Adentro

16.09 – Domingo

14h L. Cohen
15h Rei Sol
16h30 Um Dia
18h30 La Flor – Parte 2 (327 min com intervalo de 10 minutos)

17.09 – Segunda

14h Os indesejados da Europa
16h Estação do Diabo
20h Um Elefante Sentado Quieto
18.09 – Terça

14h Rei Sol
15h30 L. Cohen
16h30 Lamaland
18h30 La Flor – Parte 3 (310 min com intervalo de 10 minutos)

19.09 – Quarta

14h Longa Jornada Noite Adentro
16h40 Á Deriva
18h30 Torre. Um Dia Brilhante
20h30 Estação do Diabo

Sinopse

 – dir. Johann Lurf, Austria, 2017, 99 min, 12 anos

Para sua estreia no cinema, o estruturalista austríaco Johann Lurf escolheu as estrelas do cinema. Não os atores e atrizes, mas os pequenos pontos de luz do céu noturno extraídos de diversas obras, foram usados trechos de cerca de 550 filmes, desde a origem do cinema até os dias atuais, num projeto a ser expandido anualmente. Esses céus estelares, tirados de seu contexto original e mantendo intacto o áudio dos filmes (ruídos, músicas, diálogos) são campos de escuridão plenos de possibilidades. A edição de Lurf – com base na sua metodologia de manter o som, a imagem e duração de cada clipe – leva o público a uma jornada pelo cosmos.

Asako I & II – dir. Ryusuke Hamaguchi, Japão, 2018, 119 min, 12 anos

Asako e Baku vivem um romance intenso e avassalador, porém, certo dia, o temperamental Baku desaparece. Dois anos mais tarde, depois de se mudar de Osaka para Tóquio, Asako encontra o duplo perfeito de Baku. Ryusuke Hamaguchi, que já havia atraído atenção em 2015, com um filme de mais de cinco horas intitulado Happy Hour, retorna com esta obra, baseada em um livro da escritora Tomoka Shibasaki, para traçar a trajetória de um amor, ou, para ser exato, dois amores, encontrados, perdidos, deslocados e recuperados.

Á Deriva – dir. Helena Wittmann, Alemanha, 2017, 95 min, 12 anos

Duas mulheres passam um final de semana juntas no Mar do Norte. Caminhadas na praia, sanduíches de peixe à beira mar, previsões meteorológicas pelo celular. Céu, horizonte, água. Em breve uma delas retornará para sua família na Argentina, enquanto a outra tentará aproximar-se um pouco mais do oceano. Ela, então, parte em direção ao Caribe e o desconhecido a deixa vulnerável. Logo, já não é mais possível avistar a terra. A mulher atravessa o Oceano Atlântico em um veleiro. Uma onda segue a outra; elas não se parecem. Os pensamentos divagam, o tempo abandona o caminho trilhado e a ondulação acalma o sono profundo. O mar assume a narração. Quando a mulher reaparece, o vento ainda está em seus cabelos, mas o chão sob seus pés agora é firme. Ela está de volta e a outra lhe pergunta: “Você mudou?”

Um Dia – dir. Zsófia Szilágyi, Hungria, 2018, 99 min, 12 anos

Anna, mãe de três filhos, está sempre correndo: do trabalho para o berçário, a escola, o balé, a aula de esgrima. Como se não bastasse, ela suspeita que está sendo traída pelo marido. Seus problemas são bastante comuns, mas Anna simplesmente não tem tempo para parar e refletir sobre eles, que se acumulam continuamente, ameaçando esmagá-la. Ela precisa ter muita energia para seguir em frente.

Um Elefante Sentado Quieto – dir. Hu Bo, China, 2018, 230 min, 12 anos

Sob o sombrio céu de uma pequena cidade no norte da China, as vidas de diferentes protagonistas estão interligadas. Para proteger um amigo, o jovem Wei Bu empurra o valentão da escola escada abaixo e foge do local após o garoto ser hospitalizado com risco de vida. Wang Jin, um vizinho de 60 anos, vive em conflito com seu filho e nora que querem colocá-lo em um asilo fétido e decide se juntar a Wei. Além disso, Huang Ling, a melhor amiga e colega de classe de Wei Bu, está atormentada por manter um caso com o vice-diretor da escola. Desesperados, os três decidem fugir juntos, enquanto, do outro lado da cidade, o irmão mafioso do valentão ferido, as autoridades da escola e os pais promovem uma caçada implacável a Wei. No final, os três embarcam em um ônibus em direção à Manchúria, onde, segundo dizem, há um elefante de circo sentado quieto. Baseado na história favorita de Hu Bo, a qual faz parte de seu próprio romance intitulado Huge Crack.

Estação do Diabo – dir. Lav Diaz, Filipinas, 2018, 234 min, 12 anos

No final dos anos 70, uma gangue de policiais controlada por militares aterroriza uma remota aldeia nas Filipinas. O terror infligido aos cidadãos não é apenas corporal, mas também altamente psicológico. As pessoas são constantemente alimentadas com histórias apócrifas sobre o líder da aldeia. Algumas almas lutam, recusando-se a desistir. O poeta, professor e ativista Hugo Haniway procura desesperadamente descobrir a verdade sobre o desaparecimento de sua esposa. Neste novo filme de Lav Diaz, narrativa e os personagens são uma combinação entre eventos reais e pessoas daquela época. Uma história de amor passada no período mais sombrio da história das Filipinas: a ditadura de Ferdinando Marcos. Uma ópera rock filipina com música e letras de Lav Diaz.

Os indesejados da Europa – dir. Fabrizio Ferraro, Espanha / Italia, 2018, 111 min, 12 anos

Catalunha, sudeste dos Pireneus. Uma paisagem mineral e seus elementos. Ao longo da “Rota de Lister”, em fevereiro de 1939, os refugiados da Guerra Civil Espanhola avançam lentamente. Entre eles, três militares antifascistas. Somente um ano mais tarde, outro grupo de “indesejados” percorre a mesma rota através dos Pireneus, mas, desta vez, na direção contrária. Trata-se da população de antifascistas, estrangeiros e judeus que tenta fugir da França ocupada e “colaboracionista”. O filósofo Walter Benjamin é um deles. A bela música de John Cale e Pau Riba enfatiza o tom elegíaco deste simbólico filme sobre as diásporas, do passado e do presente.

L. Cohen – dir. James Benning, EUA, 2017, 45 min, 12 anos

A visão de um campo, em uma fazenda no Oregon, observando a lua que passa e o pôr do sol, incorporadas a uma canção de Leonard Cohen.

La Flor – dir. Mariano Llinás, Argentina, 2018, 808 min, 12 anos

La Flor é uma narrativa complexa composta de seis episódios, sucessivos e independentes, interligados pelas mesmas quatro atrizes: Pilar Gamboa, Elisa Carricajo, Laura Paredes e Valeria Correa. Filmado ao longo de um período de nove anos e dividido, para fins de exibição, em três partes, esses seis episódios apresentam uma variedade de diferentes narrativas e gêneros. O universo dessas histórias muda radicalmente de um episódio para o outro, assim como as personagens interpretadas pelas quatro atrizes. Pilar Gamboa aparece como uma feiticeira na primeira história, uma cantora pop na segunda, uma espiã muda na terceira, ela mesma na quarta, uma personagem secundária, quase invisível, na quinta, antes de retornar, na sexta, como uma prisioneira que foge em uma carroça pelos Pampas selvagens do século 19.

Lamaland – dir. Pablo Sigg, México / Suíça, 2018, 91 min, 12 anos

Destinados a viver em um estado radical de isolamento, no paraíso perdido chamado Nova Germânia, na selva paraguaia, os dois descendentes sobreviventes da colônia ariana, fundada pela irmã de Friedrich Nietzsche, descobrem seu destino final graças ao colapso espontâneo de sua existência diária. É como se as forças obscuras do tempo, os deuses do ar e dos elementos determinassem o fim dos homens que sonhavam com um mundo formado por apenas uma história, uma língua, uma divindade, uma raça e um território.

Longa Jornada Noite Adentro – dir. Bi Gan, China / França, 2018, 140 min, 12 anos

Luo Hongwu retorna a Kaili, cidade natal de onde havia fugido há vários anos. Começa, então, sua busca pela mulher amada e nunca esquecida. Ela disse que se chamava Wan Quiwen…

Rei Sol – dir. Albert Serra, Espanha / Portugal, 2018, 62 min, 12 anos

Em uma galeria de arte em Lisboa, o ator Lluís Serrat representa a agonia do Rei Luís XIV durante sete dias. Inevitavelmente, no último dia, a morte vai aparecer.

Torre. Um Dia Brilhante – dir. Jagoda Szelc, Polônia, 2017, 106 min, 14 anos

É início de verão e Nina, a filha de Mula, está prestes a celebrar sua Primeira Comunhão e os parentes começam a chegar. Entre eles, Kaja, irmã de Mula e mãe biológica de Nina, que, por alguma razão, permaneceu ausente nos últimos seis anos. Seu retorno desencadeia as ansiedades de Mula, que passa a desconfiar de qualquer interação entre Kaja e Nina. A família acredita na reconciliação, mas, para Mula, Kaja retornou com a pretensão de levar a criança embora. Enquanto a presença de Kaja desencadeia mudanças na família, ocorrem uma série de peculiares eventos metafísicos. O medo de Mula cresce e ela deseja se livrar da irmã. Entretanto, há uma razão para o retorno de Kaja.

A Viagem da Família – dir. Liang Ying, Taiwan / Hong Kong / Singapura / Malásia, 2018, 107 min, 12 anos

Depois de dirigir o filme, The Mother of One Recluse, a diretora Yang Shu foi forçada a viver no exílio em Hong Kong. Quando descobre que sua mãe terá de passar por uma cirurgia grave, as duas mulheres decidem se encontrar em Taiwan, onde, Yang, juntamente com o marido e o filho, irá participar de um festival de cinema, enquanto sua mãe fará uma excursão turística. Para garantir que a reunião de família transcorra em segurança, todos se hospedam no mesmo hotel e seguem a excursão por seus vários destinos cênicos.

Tal como sua protagonista, o diretor Liang Ying vive exilado em Hong Kong, desde 2012, quando, após a exibição de seu filme When Night Falls (2012) em festivais internacionais, as autoridades chinesas o declararam persona non grata. A obra é baseada na história verídica de um homem executado, em 2008, por assassinar seis policiais com uma faca em uma delegacia de Xangai, após ter sido preso e espancado por andar de bicicleta sem licença. Depois que o filme foi exibido no Festival de Jeonju, na Coreia do Sul, sua família, em Xangai, e a família de sua esposa, em Sichuan, foram visitadas e ameaçadas pela polícia chinesa. Ying retornou a Hong Kong (onde atualmente trabalha) e descobriu que seria preso se voltasse à China.

Vinheta

Serviço

  • Indie 2018
  • Quando : 12 a 19 de setembro de 2018
  • Ingressos: R$12 (inteira), R$6 (meia), R$3,50 (credencial plena SESC)
  • Contato: (11) 3512-6111
  • Onde:  CineSESC
  • Endereço: Rua Augusta, 2.075, Cerqueira César – São Paulo/SP
  • Site: http://indiefestival.com.br/

Nascido algumas décadas atrás num agosto cinzento. Amante de literatura e Cinema, em especial as produções orientais. Tem nesse projeto um sonho que se iniciou no distante ano de 2006.

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