Kwaidan – As Quatro Faces do Medo
Antologia de quatro contos de temática sobrenatural baseados na coletânea escrita por Lafcadio Hearn com histórias do folclore japonês. – Kwaidan – As quatro faces do medo [1964]
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Lançado no ano de 1964 e dirigido por Kobayashi Masaki, Kwaidan é aclamado pela crítica como uma das grandes obras clássicas do horror japonês, tanto por seu lirismo como pela sua estética.
Composto por quatro histórias independentes, esta antologia tem como material base alguns livros do escritor de origem grega Lafcadio Hearn, em especial a obra “Kwaidan: Histórias e Estudos sobre Coisas Estranhas”, lançado em 1904. Curioso destacar que Hearn se mudou para o Japão em 1890 como correspondente de um jornal e lá acabou se apaixonando não só pelo país como também pela filha de uma tradicional família de samurais com quem se casou. Após se naturalizar cidadão japonês, o escritor adota o nome Koizumi Yakumo e se dedica até o fim de sua vida a escrever sobre a cultura, as tradições e as peculiaridades da terra do sol nascente.
Os contos selecionados pelo diretor para integrar seu filme são: O Cabelo Negro (黒髪, Kurokami), que conta a trajetória de um samurai que abandona sua mulher em busca de fama e riqueza e que se arrepende anos depois; A Mulher da Neve (雪女, Yukionna), que trata do encontro de um lenhador com uma entidade sobrenatural durante uma nevasca e do poder de uma promessa; Hoichi, o Sem Orelhas (耳無し芳一の話, Miminashi Hōichi no Hanashi), sobre um monge cego que é convocado para entreter uma comitiva fantasmagórica cantando poemas sobre uma antiga batalha; e por fim Em uma Xícara de Chá (茶碗の中, Chawan no Naka), que descreve a estranha aparição de um rosto no reflexo de uma xícara e como isso pode conduzir um homem à loucura.
Apesar de serem histórias sem uma relação direta, todas trazem elementos sobrenaturais e de grande estranheza, elementos pertencentes a um mundo onde folclore e realidade se misturam e onde o fantástico está tão presente quanto em um conto de fadas.
Para criar um mundo tão belo quanto assustador, o diretor optou por gravar a maioria das cenas no interior de um hangar de aviões, reproduzindo céus, florestas e mares com cores fortes e vibrantes em cenários pintados com elementos surreais ao fundo, criando uma fotografia onírica e com pinceladas expressionistas, um complemento perfeito à temática do longa.
Com um tom lento e poético, a obra expõe pouco a pouco o interior de seus protagonistas, suas paixões, falhas e medos. A narrativa também se apoia no lirismo e no silêncio para preencher as mais de três horas de filme, ponto que pode incomodar alguns espectadores.
O filme foi lançado no Brasil como Kwaidan – As Quatro Faces do Medo, evidenciando, mais uma vez, a obsessão nacional por traduções e subtítulos que expliquem o conteúdo da obra.
Um fato curioso é que apesar de ter sido nomeado para o Oscar de melhor filme estrangeiro e de ter saído como ganhador do prêmio especial do júri em Cannes, a recepção por parte do público estrangeiro na época não foi das mais calorosas. A audiência esperava que um filme de horror japonês tivesse uma trama mais dinâmica e cheia de ação e efeitos especiais aos moldes de Godzilla, lançado em 1954.
Kwaidan é sem dúvida uma obra de arte em seu sentido mais literal, provocando nossos sentidos e nos levando à contemplação e à reflexão. Mais do que assustar, o filme nos conduz por uma experiência sensível e mágica pela cultura e folclore japonês.
Trailer
Ficha técnica
- 怪談: Kaidan
- Título Literal : Histórias de Fastasma
- Título Internacional: Kwaidan
- Direção : Kobayashi Masaki
- Info: Japão, 1964 Cor – 183 min
- IMDb: www.imdb.com/title/tt0058279/